Théo acordou e viu a mãe sentada na poltrona de frente para a janela.
- O que foi?
- Você está melhor?
- Sim.
- Vamos falar de negócios.
- Vai falar de negócios comigo?
- Sim, você será meu substituto. Se alguma coisa acontecer comigo, você fica no comando.
- E o que acontece agora?
- Você vai decidir se essa viagem serviu de alguma coisa ou não.
- O que isso significa?
- Temos algumas opções. Pensei que viria comprar uma empresa e não é bem assim, Vittorio quer comprar metade da nossa empresa.
- Qual delas?
- Na verdade é como se ele fosse sócio do grupo Franco. Assim seria dono de metade todas as nossas empresas.
- Sendo assim, qualquer decisão daqui para frente não depende só de nós?
- Ele não quer ter dor de cabeça, ainda serei a presidente. Só que com essa entrada de capital nós vamos crescer muito mais do que o estimado para os próximos três anos.
- Se é assim qual é o problema?
- No final a empresa não seria mais só nossa.
- Quais as opções?
- Podemos só aproveitar as férias aqui até o final dessa semana e voltar para casa.
- E o que mais?
- Você e a Victória...
- Mãe! Outra vez? Já falamos sobre isso!
- Só se aproxima dela, ok? Ela ficou acordada a noite toda cuidando de você. A garota parece com a tal Valentina, mas é de uma boa família, é forte e tem um futuro brilhante. Completamente diferente da outra.
- O que você quer com isso?
- Se você casar com ela, terá as suas ações mais as dela. Será o dono da maior parte de empresa e não vai precisar se preocupar com nada. Estou pensando no seu futuro.
- Vou conhecer a Vick, sair com ela, passar um tempo com ela, mas não quero que você nos force a nada.
- Meu amor, essa garota não tem medo de mim.
- Mas eu tenho. Se isso era tudo eu preciso descansar.
- Théo. Tem medo de mim?
- Melhor você sair agora. - Ele puxou o edredom e fechou os olhos.
Esperanza deixou o quarto e Théo pulou da cama e foi até o armário para trocar de roupa. Tentou ligar para Valentina o dia todo, mas o número dava sempre ocupado.
Saiu do quarto em silêncio e deixou a casa sem ser visto por ninguém.
Vick e Vittorio chegaram na hora do jantar. Ficaram até tarde trabalhando na coleção.
- A Esperanza já vai descer, foi chamar o Théo. - Angelina explicou e veio para o lado do marido. - Vocês demoraram tanto hoje.
- Sua filha vai criar uma empresa para ela.
- Sim, de roupas e nossa primeira coleção vai sair junto com a nova coleção jovem da VGiordano.
- Meu filho não está aqui! - Esperanza entrou na sala de jantar desesperada.
- Como assim? - Bianca levantou e foi amparar a mulher.
- Ele não está no quarto.
- Já tentou ligar para ele?
- Ele não atende.
- Pai, posso pegar o carro? - Vick levantou e esperou uma resposta do Vittorio.
- Mas você sabe onde ele está?
- Não tenho certeza, mesmo assim prefiro ir e verificar pessoalmente.
- Eu vou com você. - Esperanza falou logo.
- Não, não, você está muito nervosa. - Vittorio levantou e deu a chave na mão da filha. - Filha, me liga se precisar de alguma coisa. E nós vamos te ligar se ele aparecer.
- Mateo, Miguel, vamos dar uma volta no quintal para ver se ele está por aqui. - Victor levantou da mesa.
- Fica tranquila, senhora. Vamos encontrar o Théo. - Vick saiu correndo na direção da porta.
No caminho para o apartamento ela ligou para Gabriel.
- Preciso da sua ajuda.
- O que foi?
- Meu amigo sumiu e eu acho que ele está atrás daquela garota.
- E o que você quer que eu faça?
- Vai em casa e pega o celular da Bianca com a Gisele, ela vai saber o que é.
- E daí?
- Aquele áudio... Está na hora de saber se o seu plano funciona.
- Eu sei que vai funcionar, mas você tem certeza que quer fazer isso?
- Sim.
- Estou indo lá.
Chegou na frente do prédio e lá estava ele. Batendo na porta e chamando ela.
Vick estacionou e foi até ele.
- Está louco? Sua mãe está desesperada.
- Valen?
- Outra vez essa garota?
- Como você me achou no endereço dela?
- Eu estava com você quando seu amigo te enviou isso. Não achei que seria louco de vir até aqui de noite, nevando e logo depois de sair do hospital. Mas aqui está você!
- Ela está correndo perigo!
- Sério?
- Sim, minha mãe não pode saber onde ela está.
- Isso não faz sentido! - Vick colocou a mão na testa dele. - A febre voltou. Vamos para casa.
- A Valentina!
- Gosta tanto assim dela?
- Já aconteceu antes, o nome dela era Laura e ela sumiu, a família dela faliu e nunca mais vi a Laura depois. A Valen é importante para mim, para a Felipa, Luke e Johnny. Não posso deixar ela desaparecer também.
Vick ficou quieta e voltou para o carro que ainda estava com a porta aberta. Pegou um casaco do Vittorio e voltou para perto do Théo.
- Veste isso e se acalma.
- Vick, desculpa. Eu não quero que você se envolva com isso.
- E o que quer que faça? Deixe você aqui, na rua, no frio e sozinho? Ainda por cima com febre...
O celular dele começou a tocar.
- Quem é?
- É o número que o meu amigo me deu. - Ele atendeu. - Valen?
- Théo, me escuta.
- Fala, eu estou escutando.
- Eu e meus pais achamos meu avô, estamos bem. Eu sei que muitas coisas aconteceram e que você está confuso. Espero que siga em frente e deixe o passado para trás.
- Valen, quero te ver. Eu estou aqui na portaria do seu prédio.
- Eu quero viver tranquila com meus pais longe da sua mãe e de toda essa confusão. Tenho certeza que vocês todos, o Luke e o Johnny, todos vão ficar bem sem mim.
- Quero ver você.
- Tenta me entender, eu quero paz e só vou conseguir se parar de vir atrás de mim.
- Valen, por favor!
A ligação caiu e ele tentou ligar várias vezes até que a bateria do celular dele acabou.
- O que ela disse? - Vick se aproximou dele.
- Que não quer me ver, que está com os pais e a família do pai dela.
- Vamos para casa?
- Não quero ver a minha mãe agora.
- Nada vai justificar você não ir para casa e ver a sua mãe, você está com febre e sua mãe está desesperada.
- Não quero ficar sozinho com ela.
- Que bom, lá em casa o que não vai faltar é gente.
Théo foi andando na direção do carro. Vick abriu a porta para ele e colocou o cinto nele. Ela dirigiu com cuidado.
- Eu tenho uma teoria. Talvez, você devesse se concentrar em crescer.
- Acabou de me chamar de criança?
- E não é?
- Você não passou o que eu passei.
- E é por isso que eu estou te falando friamente. Se gosta dela cresce. Perseguir a menina não vai mudar nada, só vai piorar. Se insistir nisso vai acabar levando a Esperanza até a garota. Volta para casa, estuda, trabalha e um dia vai ser grande o suficiente para lidar com a sua mãe.
- Sabe qual foi a última da minha mãe? Ela disse que eu deveria me aproximar de você.
- Eu não tenho nada, só o meu sobrenome.
- É só isso que importa para ela.
- Por causa da sociedade?
- Você sabe?
- Meu pai pensa do mesmo jeito. Ele disse para a Gisele se aproximar de você.
- Ele não falou para você se aproximar?
- Desculpa, mas eu gosto de alguém e isso nunca vai mudar. E meu sabe disso.
- E como se apaixonou?
- Primeiro eu vi ele no caminho para o colégio, depois ele sumiu. Ano passado descobri quem ele é. Parada no meio do shopping, olhando para o vitral mais uma vez. Enfim, gosto dele, apesar dele não saber que eu existo.
- E quem é ele?
- Você não conhece e é melhor não saber.
- Sério?
- Olha, é como se fosse um amor impossível.
- Então qual é o problema de me contar?
Vick ligou para o pai.
- Achei ele, estamos voltando para casa.
- Estamos esperando vocês em casa.
Ouviu atentamente a voz do Vittorio e desligou a chamada.
- Vai me ignorar?
- Quando meu pai falou sobre você esperava alguém mais frio e maduro.
- A calculista da família é a minha mãe.
- E a sua irmã...
- Conhece ela?
- Era uma pergunta. E a sua irmã? Como ela é de verdade? Nas revistas ela parece tão perfeita.
- Ela já foi pior, acho que passamos por muitas coisas, o suficiente para derreter nossos corações.
- Depois de tudo o que vi não posso dizer que gostaria de entrar para a sua família.
- Sua família não tem problemas?
- Temos, principalmente o papai. Mas tentamos resolver tudo em casa. Vou acelerar um pouco para ver se pego o Gabriel em casa ainda. Pode descansar se quiser.
Théo se encolheu no banco e acabou dormindo.
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