O último dia deles aqui... Dia da mudança...

Sempre morei com meus pais. Mesmo quando eles trabalhavam tanto que parecia que eles não estavam aqui. Nessa época era minha avó e meu avô que passavam o dia com a gente. Eu e meu irmão tínhamos 12 e 8 anos, apesar de hoje em dia parecer que eu sou mais nova, naqueles dias ele era levado como qualquer moleque dessa idade e eu acabava sempre chatiadíssima porque ele não parava de implicar comigo.

Ele ainda implica comigo, mas ele casou com a melhor cunhada do mundo e algumas vezes nós duas nos juntamos para pegar no pé dele.

Bom, minha avó, principalmente, cuidava de nós dois até ela ficar bem cansada de correr atrás do meu irmão com um prato de comida na mão, a mochila pendurada em um dos braços, a camiseta da escola no ombro. Ao redor do quintal tentando alimentar o neto, enfiar a camiseta do uniforme nele, a mochila e entregar para a tia que vinha buscar de carro.

Lembro desse dia até hoje.

Eu vi a cena, chamei o nome dele e naquele momento ele sabia que a farra estava acabada. Ele passou por mim em câmera lenta e o meu sorriso já dizia tudo.

Mamãe vai saber disso...

Tantos anos juntos, eu cresci, meu irmão cresceu. E aquele moleque casou primeiro que eu... Só que sempre pensei que eu viveria na casa dos meus pais até me casar. Ou sei lá, o dia que tivesse condições de ir para um canto só meu.

Acontece que na medida que crescemos nossos avós, que cuidaram de nós quando éramos crianças, envelheceram.

Agora eles que precisam de cuidados, de atenção e principalmente de pessoas que possam ouvir tudo o que eles carregam de anos em sabedoria de vida.

Por isso, hoje foi o último dia com meus pais na nossa casa. Amanhã eles vão para a casa do meu avô. E por mais que eu esteja bem grande agora e que tenha a certeza que tudo está se acomodando naturalmente. Dói.

Meu pai ainda vem passar os dias aqui, tem a Mel que vai ficar e todas as coisas que ainda podemos fazer juntos, cinema, shopping...

Mas passar as tardes vendo Netflix e comendo pipoca doce com a dona Lilly.

Acordar com cheiro de café do papito. Momentos onde oramos juntos, rimos, choramos, cantamos. Não vai mais acontecer como antes.

É mais uma oportunidade para crescer mais um pouco? Sim.

Morar com meu irmão vai ser bem legal? Talvez.

Ainda vou ver eles? Óbvio que sim.

Mas nada tira esse nó na garganta que não desce por nada.

No nosso último dia, disse o quanto amava eles, abracei muitas vezes a minha mãe. Fizemos a arrumação da mudança, praticamente juntas, admito que fugi para engolir o choro algumas vezes. Vi a Mel se rebelando um pouco, cada hora ela rasgava um papel no meio da bagunça.

Teve uma hora que a cachorra deitou num cantinho do meu quarto que era o único lugar com a luz apagada da casa. Ela também está sentindo que tem uma mudança acontecendo.

Fomos ao shopping comprar umas coisinhas que faltavam e ganhei presentinhos para consolar o coraçãozinho apertado.

Não faço idéia se vão chegar a ler esse post hoje, amanhã ou no futuro.

Mas quero que saibam de umas coisas, juro que me esforcei muito para parecer uma adulta hoje, mais do que me esforço normalmente.

Se pudesse parar o tempo num abraço nosso juro que o faria.

Amo vocês demais!

Desculpa, não sou a melhor filha do mundo, fiz muitas coisas que vocês não concordaram, algumas que só entenderam depois de um tempo. E coisas que deixaram os dois preocupados.

E obrigada! Por absolutamente tudo. Por me trazerem para o convívio de vocês, me ensinarem tantas coisas. 

A vida de vocês é um exemplo. O amor de vocês é uma inspiração.

E o fato de que vão abrir mão da casa de vocês para cuidar do bem estar dos meus avós. Entre muitas outras coisas e em muitas outras oportunidades vocês sempre buscaram fazer o que era certo, honrado e justo.

Além disso, se hoje me encontro fazendo parte de um corpo e servindo com alegria é porque cresci vendo vocês fazerem o mesmo.

Papito e dona Lilly, vocês são os melhores pais que eu poderia ter.

Amo vocês demais!

Ps.: Sei que é muito provável que me pegue indo para o quarto de vocês buscando os dois e vou lembrar que estão um pouco mais longe do que duas portas de distância.