VGIORDANO EP. #004👢


Valentina tentava fazer um pequeno curativo no braço sentada em um banco no shopping. O esparadrapo enrolava no dedo dela e a irritação aumentava cada segundo mais.
- Posso ajudar? - Ele sentou e fez o curativo. - Como fez isso?
- Uma fã no colégio. - Valentina esboçou um sorriso.
- Se alguém está te perseguindo deveria contar para um adulto responsável...
- É só uma briga de meninas.
- Daqui isso parece agressão e se sua escola não quiser resolver pode procurar a polícia com seus pais.
- Escola? Quantos anos acha que eu tenho?
- Quinze?
- Faço dezoito em dois meses. A adulta que vai me ajudar sou eu mesma.
- E olha como está se saindo sozinha...
- Eu só preciso aturar isso mais três meses e logo estarei em outro país fazendo o meu sonho se tornar realidade.
- E qual é o seu sonho?
- Meu sonho é... - Valentina olhou para ele desconfiada. - Voltar ao trabalho e parar de falar com um estranho. - Ela guardou as coisas na mochila.
- Pode me chamar de Théo.
- Valentina. - Ela estendeu a mão para ele.
- Prazer em conhecê-la. - Théo segurou a mão dela.
- Tenho que voltar ao trabalho... - Valentina levantou e parou quando viu o sorriso no rosto dele.
- Onde você trabalha?
- Apesar de saber seu nome você ainda é um estranho.
- Tudo bem, tenho a sensação que vamos nos ver novamente em breve.
- Boa sorte com isso! - Valentina saiu andando até desaparecer no meio da multidão.
- Quem era aquele? - Luna colocou a última caixa sobre a bancada.
- Não faço ideia. Porque está esvaziando o estoque?
- Recebemos um aviso, sinto muito Valentina.
- Que aviso, Luna?
- Uns homens de terno passaram por aqui ainda agora e deixaram o aviso. Compraram o shopping e nós teremos que sair.
- Não podem fazer isso.
- Sim, eles podem. A senhora Franco já comprou metade da cidade, só me pergunto até onde aquela mulher vai.
- Luna, temos que falar com ela.
- Pode tentar, só não fala meu nome. De qualquer jeito eu vou voltar para a minha cidade, meus pais já estão me esperando.
Valentina jogou a mochila no chão e saiu correndo procurando os homens de terno. Achou eles perto da saída do shopping.
- Com licença, sabem quantas pessoas acabaram de perder seus empregos? Não podem fazer isso com as pessoas. E suas famílias?
- Quem é você? - Uma mulher saiu do meio do grupo.
- Uma das pessoas que ficou sem emprego
- Você não tem idade para trabalhar.
- Bom, alguns de nós ainda precisam trabalhar se quiserem fazer uma faculdade.
- É disso que se trata? Quer dinheiro?
- Não, se trata de mudar a vida de milhares de pessoas por puro egoísmo.
- Por milhões de dólares, é o que vou ganhar transformando esse lugar em um hotel de luxo.
- Não, o dinheiro que a senhora ganha agora será gasto por seus filhos. Ou fez alguma coisa para si mesma nos últimos dez anos?
- O que eu faço ou deixo de fazer... - A mulher sorriu. - Sinto muito, vou fazer um cheque para você.
- Vamos ver se consegue entender de outro jeito. Continue despejando as pessoas de suas casas e de seus empregos sem se perguntar para onde elas vão. E quando os efeitos de suas péssimas decisões baterem em sua porta. - Valentina sorriu com raiva. - Boa sorte! - Valentina deixou a mulher de boca aberta com um cheque na mão enquanto saia correndo de volta para Luna.

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